TEUS OLHOS

Nunca dizem teus lábios
O que dizem teus olhos,
Que confessam teus desejos
E descobrem teus devaneios,
Que mostram tua dor
Ou infundem tua alegria,
Que choram tua agonia
Ou revelam teu amor,
Que me deslumbram ou me cegam,
Me curam ou me maltratam,
Me acariciam ou me matam,
Me concedem ou me negam;

Teus olhos têm o dom:
De alegrar-me, entristecer-me,
Consolar-me e comover-me,
Porque teus olhos são:
Olhos que sabem falar,
Olhos que sabem sorrir,
Olhos que sabem ferir,
Olhos que sabem beijar.
Olhos que gelam ou abrasam,
E com neve ou com brasa
Deixam ou levam o calor de tua ternura,
Por onde quer que passam.

E quando lançam flechas,
Com agudas setas,
Meus olhos são dois alvos,
Que querem cravar-se nelas.
Sinto um prazer inexplicável,
Se em teus olhares tranqüilos,
Descubro, atrás de tuas pupilas
Um paraíso encantador.
Triste e medrosa adivinho,
Entre as flores de seu Éden,
Muitos espinhos também,
Ao longo do caminho.

Mas, mesmo que guardes tuas flores
E me ofereças teus espinhos,
Quero eternamente em teus olhos
Viver em busca de teus amores.